Perguntas para a Antárctida

Gonçalo Vieira  convida ao envio de perguntas relacionadas com a campanha por email, que serão respondidas, na medida do possível, em directo da Antárctida.

As perguntas devem ser enviadas para [email protected] ao cuidado de Ana Salomé. As perguntas e as respostas serão divulgadas nesta página.

Actividade encerrada a partir de 11 de Fevereiro de 2011. As perguntas enviadas e que ainda não foram respondidas, serão respondidas em breve nesta página.
Obrigado a todos pela vossa participação e interesse.


Escola Secundária de António Gedeão do Laranjeiro
Excelentíssimo Sr. Gonçalo Vieira, somos alunos do 10º Ano da Escola Secundária António Gedeão e gostaríamos de lhe propor algumas questões sobre a sua estadia na Antárctida, assim como o projecto em que está envolvido. Tivemos conhecimento do mesmo, nas nossas aulas de Geografia, assim como de Educação física e Inglês.
Em primeiro lugar, temos curiosidade em saber, perante as diferenças de clima entre a Antárctida e Portugal, como é que se sentiu e principalmente como é que se adaptou a essas fortes mudanças? No que toca ao vosso trabalho, qual é a vossa actividade preferida. E no que toca ao lazer?
Em segundo lugar, gostaríamos de saber, se pessoalmente acredita, que nos tempos futuros, serão encontrados e aproveitados, novos recursos que, actualmente se pensa estarem sobre o solo da Antárctida. E quem os irá explorar e extrair?
Concluindo, qual é o impacto do aquecimento global nos animais da Antárctida e o que é que nós, cidadãos do mundo, podemos fazer para evitar o descongelamento dos solos.
Sem mais nada a acrescentar, agradecemos a sua atenção.
Cumprimentos e Bom Trabalho.
Alunos do 10ºD.

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Olá a todos!
Fico muito contente pelo vosso interesse e por terem ouvido falar do blogue em diferentes disciplinas. Isso mostra que a Antárctida é, de facto, uma região que pode ser um tema de estudo multi e interdisciplinar.
No que respeita ao clima, o essencial é gostarmos daquilo que estamos a fazer e, está claro, não nos importarmos de passar algum frio no terreno. O trabalho é tão fascinante, que o frio acaba por se sentir um pouco menos. Pior que o frio, por si, é este estar junto a ventos fortes e a muita humidade, como é o caso de dias em que chove continuamente, com temperaturas próximas de 0ºC. Essas são, na Antárctida Marítima, as piores condições possíveis para fazer trabalho de campo e, infelizmente, são muito frequentes.
Aquilo que gostamos mais de fazer será, talvez as actividades de reconhecimento geomorfológico e de cartografia, pois permitem-nos ir a áreas que ainda não conheciamos e, muitas vezes, descobrir novidades que não esperamos encontrar. Em relação ao lazer, infelizmente, nas últimas campanhas, tem havido pouco tempo livre, tal é a quantidade de trabalho acumulado. Geralmente isso acontece, porque aproveitamos o tempo na Antárctida para fazer o máximo de coisas possível, de modo a termos mais dados para analisar quando regressamos a Portugal. Mas, está claro, que é excelente dar uns passeios, em especial de Zodiac ou de moto de neve, bem como acompanhar colegas de outras especialidades nos seus trabalhos de investigação.
Quanto aos recursos naturais, sabe-se que há vários na Antárctida, estando muitos deles ainda por descobrir. Contudo, espero que não sejam explorados nos tempos mais próximos. O Tratado da Antárctida, que rege a actividade internacional na região a sul de 60º Sul e, em especial, o Protocolo de Protecção Ambiental protegem toda a região nesse sentido. Nesse quadro, nas próximas décadas as actividades na região dedicar-se-ão apenas a fins pacíficos e de investigação científica, sem a possibilidade de explorar os recursos minerais.
Em relação ao aquecimento global e às suas consequências na Antárctida, ainda há muito por compreender melhor. Sabe-se, contudo, que a região da Península Antárctica e ainda a Antárctida Ocidental são as mais sensíveis ao aquecimento global. As principais consequências dão-se ao nível da dinâmica dos glaciares, com o consequente aumento do fluxo de gelo do continente para o oceano, com implicações na subida do nível do mar. No que respeita ao solo gelado e aos ecossistemas terrestres da Antárctida, as consequências do aumento das temperaturas do ar são ainda pouco conhecidas. A região mais sensível da Antárctida é aquela em que trabalhamos, pois é nas ilhas Shetlands do Sul que as temperaturas do permafrost se encontram mais próximas de 0ºC, o que faz que este seja mais susceptível de fundir. Isso vai ter implicações no modo como a água circula no solo e como vai estar disponível para os seres vivos. Deverá também causar mudanças nos processos erosivos e na dinâmica da paisagem. Esse é o nosso tema principal de estudo e para o qual já estamos a dar alguns contributos, os quais, pensamos, se tornarão mais sólidos à medida que formos acumulando um período mais longo de dados e de observações.
Cumprimentos a todos!
Gonçalo Vieira

Escola Secundária de António Gedeão do Laranjeiro
Bom dia aí para a Antárctida. O grupo está bem?
Somos 13 alunos do curso de Linguas e Humanidades da turma D do 11º ano da Escola Secundária de António Gedeão do Laranjeiro, Almada.
Estamos numa aula de Geografia, consultámos o PERMANTAR-2 e ocorreram-nos as seguintes questões:
Levaram alimentos suficientes para todos os dias?
No Inverno no Hemisfério Sul é dia quase 24 sobre 24 horas, mantêm o horário nocturno normal?
Já encontraram vestígios de impactos ambientais na Antárctica? Se sim, quais?
Bom trabalho e bom regresso!
Os alunos do 11ºD.

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Olá a todos!
Obrigado pelo vosso interesse!
Toda a gestão da campanha no que respeita aos alimentos é feita pelos programas antárcticos dos países com quem colaboramos. Neste caso, de Espanha e da Bulgária. A comida é transportada directamente para as bases por navio e há comida para todos; ou seja para grupos de 15 a 30 pessoas, dependendo das bases. Come-se de tudo, e muito bem. Aliás, por motivos de saúde é importante que a comida seja muito saudável, mas também para que a moral seja mantida alta, as refeições são momentos muito importantes.
Em relação aos horários, sim, mantemos os horários normais, embora quando seja necessário, possamos trabalhar no terreno durante mais horas, pois temos boa luminosidade.
Em relação aos impactes ambientais, esse é um tema muitíssimo amplo. Há de tudo, embora actualmente se tente que a actividade humana tenha o menor impacte possível. De qualquer modo, todas as bases têm algum impacte. Basta pensar no que é implantar edifícios no terreno, para que logo aí haja impacte; mas há muitos mais, como é o caso do pisoteio, das visitas de turistas em números maciços a lugares que se repetem consecutivamente e ainda, das próprias bases de maior dimensão. A base norte-americana de McMurdo tem mais de 1000 pessoas. Façam uma busca sobre essa base na Internet e podem ter uma ideia do impacte que causa. De qualquer modo, em especial a partir da década de 1980 que se começou a investir bastante, em toda a Antárctida, na redução do impacte ambiental e actualmente, esse problema é mais limitado do que há alguns anos. É um bom tema para fazer pesquisa na Internet.

Cumprimentos a todos!
Gonçalo Vieira

Colégio de Santa Doroteia
Olá.
Nós somos do Colégio De Santa Doroteia.
A nossa stora, Elisa Amado falou-nos de si e da sua expriência na Antárctida.
Gostávamos de saber quantos graus estão aí?
Gostávamos de o conhecer pessoalmente e queriamos, se fosse possível, quando vier da sua expedição se podería vir aqui ao colégio falar desses dois meses que passou e que ainda está a passar.
Obrigada pelo seu tempo!!! :D

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Olá,
Neste momento já estou em Lisboa. Lamento, mas não foi mesmo possível responder desde a Antárctida.
Sim, terei muito gosto em ir à vossa escola. Podes dizer à Profª Elisa que entre em contacto por email comigo, para combinarmos uma data, mas que terá que ser depois da Páscoa.
Cumprimentos a todos!
Gonçalo Vieira

olá nos somos alunos da professora Elisa Amado e queremos saber se está a gostar da sua estadia na Antártida?Se viu muitos pinguins e baleias e ainda queremos saber se nesse momento foi á praia.Quase que aposto que está sempre de fato de banho!E já agora os teletabis são confortáveis!

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Eh! eh! Sempre, sempre de fato de banho :)
Sim, há muitos pinguins e são muito curiosos. Se estivermos longe deles, vêm ter connosco curiosos. Há tantos pinguins, que praticamente já nem lhes ligo...ligam-me mais eles a mim, porque nós somos muito mais raros :)
Os teletubbies são os fatos secos de sobrevivência que usamos quando nos deslocamos nas lanchas pneumáticas...não são nada confortáveis.
Cumprimentos a todos!
Gonçalo Vieira

Colégio de Santa Doroteia
Olá Gonçalo Vieira! Estudamos no C.S.D., na turma 7ºA.
Queríamos perguntar qual a temperatura da água, e como conseguiu tomar banho???
Quais eram as temperaturas máximas?
Continuação de bom trabalho!
Bjs Ana Flor e Mariana!!!

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Olá,
Respondi a essas perguntas acima.
Obrigado pelo vosso interesse.
Cumprimentos!
Gonçalo Vieira

Colégio de Santa Doroteia
Ola eu gustava de saber mais sobre a voça exploraçao e tam tem vos acho muito corajosos eu sou aluno da profesora Elisa Amado se calhar nao de lembra dela e profesora no colegio de santa doroteia

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Olá,
Sim, lembro-me da Profª Elisa Amado. Manda-lhe cumprimentos meus. Acho que se leres as respostas que fui dando, bem como os posts do blogue, poderás saber um pouco mais acerca do nosso trabalho. Obrigado pelo interesse.
Cumprimentos!
Gonçalo Vieira

Ola eu sou o Carlos Ferreira. Tenho algumas duvidas: O ke e o refugio chileno e para que servia no passado?? O ke e o permafrost?? PS: Gosto muito do seu trabalho e da sua equipa.

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Olá Carlos,
Obrigado pelos teus comentários e interesse. O refúgio chileno é um pequeno edifício de madeira que existe na ilha Deception e que está actualmente em ruínas. Funcionou até há poucas décadas, como abrigo para o caso de ser necessário procurar resguardo em caso de tempestade. Actualmente, trabalhamos nos arredores do refúgio e, por isso, chamamos a essa área, a área do refúgio chileno. O Chile é dos países com mais bases nesta região da Antárctida.
O permafrost é o solo que se encontra permanentemente congelado, podendo estar nesse estado por períodos muito longos, superando mesmo as centenas de milhar de anos. Mais de 20% da superfície dos continentes do Hemisfério Norte, bem como quase todas as áreas sem glaciares da Antárctida e partes das altas montanhas da Terra, apresentam permafrost. Quando o solo está gelado, praticamente cessam as trocas químicas entre solo gelado e atmosfera. Contudo, quando o solo funde, as reacções químicas aceleram, em especial quando o solo é rico em matéria orgânica. Nesse caso, a actividades dos micro-organismos decompositores vai gerar a libertação de dióxido de carbono e de metano para a atmosfera, o que aumenta a concentração de gases de efeito de estufa. O permafrost é, por isso, muito importante para o aquecimento global. Mas há ainda outros aspectos muitos interessantes relacionados com a dinâmica do permafrost, como é o caso da instabilidade de terrenos, mudanças a nível da hidrologia e dos ecossistemas e ainda, aspectos relacionados com a vida de micro-organismos em ambientes extremos. Se quiseres saber um pouco mais sobre a nossa actividade, faz o download do filme http://dl.dropbox.com/u/4653594/Permafrost_Polar_Science.wmv
Cumprimentos!
Gonçalo Vieira

Colégio de Santa Doroteia
Olá!!!Nós somos do 7ºA do colégio de Santa Doroteia.
Gostámos muito de ver as imagens da Antártida!Pensávamos que era toda coberta de neve, mas afinal tem terreno sem neve!:)
Gostávamos se nos podesse explicar onde tomam banho visto que na Antártida faz muito frio.
Não tem saudades do calor de Portugal?
Ás vezes não lhe aptece desistir desta missão tão difícil?
Parabéns pela sua coragem e presistência!!!

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Olá,
Fico contente por terem gostado do blogue e das imagens. Sim, há vários terrenos sem neve, em especial no litoral, embora também aconteça em montanhas do interior do continente e noutras áreas muito secas, como é o caso do vales secos de McMurdo.
Quanto ao calor de Portugal, sim, sinto algumas saudades, mas o frio tem também aspectos muito interessantes e nunca me apeteceu desistir da missão, embora em alguns dias com chuva e com temperaturas próximas de 0ºC, em que passámos todo o dia fora, tenha por várias vezes pensado em ir mais cedo para a base :)
Cumprimentos!
Gonçalo Vieira

Colégio de Santa Doroteia
Olá!Nós somos alunas do colégio de Santa Doroteia,já vimos as imagens e achamos muito fixe(eu,Guida não sabia que havia terra sem neve na Antártica),teres passado tanto tempo na Antártica!
perguntas:
Dani- Viste alguma orca?:D
Guida-qual foi a temperatura maxima e minima quando estiveste lá???^.^
Dani e Guida-Quantas espécies de animais viste ao todo???XD
bjs das duas!

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Olá,
Na área onde trabalhamos, apesar de estarmos mesmo junto ao mar, é raro aparecerem orcas, embora seja frequente ver baleias. Contudo, há 5 anos, vi duas orcas quando estava a atravessar a passagem de Drake, no regresso da Antárctida para a América do Sul. São cetáceos fantásticos. As principais espécies de animais que encontramos são: Pinguim de Adélia, Pinguim Chinstrap e Pinguim Gentoo), focas (Weddell, Caranguejeiras, Leões marinhos, Focas leopardo e elefantes marinhos) e ainda baleias jubarta.
No que respeita às temperaturas extremas, penso que este ano terão andado entre -5ºC e +6ºC, sendo que o mais normal é estar cerca de +1ºC
Cumprimentos!
Gonçalo Vieira

Colégio de Santa Doroteia
Olá!
Gostámos muito de ler o texto "Maria!Maria!", e gostávamos de saber quantas bases existem na Antárctida.
Também gostávamos de saber o que era permafrost.
Vcs gostam de tar aí?
Nos somos do 7ºA

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Olá!
O texto “Maria! Maria!” traduz uma das principais tradições das campanhas antárcticas :) Fico contente por terem gostado.
Já respondi a outros colegas vossos o que é o permafrost e, por isso, se vasculharem as respostas vão encontrar algumas explicações.
Adoramos estar na Antárctida...mas neste momento já estou em Lisboa, no meu gabinete, e o estar “aí” respondido agora, já não teria uma resposta de adoração :)
Cumprimentos!
Gonçalo Vieira

Colégio de Santa Doroteia
Olá somos do colégio de santa doroteia do 7ºA e estamos interessados em saber como e onde dormem.
aguardamos a resposta!
:^)

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Olá,
Dormimos geralmente dentro das bases de investigação, em camaratas de 3 a 6 pessoas. As condições são boas e há mesmo roupa de cama, como lençois e cobertores.

Colégio de Santa Doroteia
Olá, nós somos alunas do Colégio de Santa Doroteia, 7ªA.
Gostaríamos de saber qual a coisa mais interessante que viu/estudou? Contactou com alguns animais que aparecem nas fotos?
Achamos que o seu trabalho é muito "fixe"!!!
Boa sorte nas suas pesquisas! Bom trabalho!!!
Beijinhos Mariana e Ana Flor.

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Olá Mariana e Ana,
É difícil dizer qual a coisa mais interessante que estudei, porque houve várias e algumas delas são de grande interesse para quem estuda ciências da Terra, mas são difíceis de compreender por quem não tem tanto interesse no tema. Acho que das coisas mais interessantes, é a relação entre a actividade vulcânica e o permafrost (solo gelado). Na ilha Deception temos sítios em que o solo está sempre congelado e, a poucas centenas de metros, está fundido e a temperaturas de várias dezenas de graus Celsius positivos. Esta interacção entre frio e calor em distâncias tão curtas é extraordinária.
Obrigado pela mensagem de apoio.

Colégio de Santa Doroteia
MARTA E INÊS

Olá!
Nós somos do Colégio de Santa Doroteia, em Lisboa... Queríamos perguntar-lhe muitas coisas, mas infelizmente não podemos... :)Como é o vosso aquecimento na Antártida??? A vossa comida não se acaba? Chegaram a comer pinguins? Boa Sorte!!! ;)
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Olá Marta e Inês,
Na Antárctida, estamos a maior parte do tempo em bases de investigação, que são conjuntos de edifícios perfeitamente autónomos. No interior, as condições de conforto são, quase sempre, muito boas, com aquecimento. Podemos mesmo quase andar de t-shirt dentro das bases. Nessas condições, pode-se trabalhar muito melhor. Do mesmo modo, também há boa comida, tal como quando estamos em casa. Há cozinheiro e mesmo alguns produtos frescos, que são trazidos de barco, como é o caso de saladas e de fruta. É claro que não comemos pinguins :) Na Antárctida, é proíbido caçar e pescar, a não ser que seja para fins científicos...e as ciências gastronómicas não estão contepladas :)
Qual é que foi a paisagem que mais gostou de ver??? ;) Qual foi o animal mais estranho que viu??? Tem vontade de voltar a casa?

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Olá,
Já vos respondo de Lisboa, pois foi impossível com a quantidade de trabalho, faze-lo desde a Antárctida. Peço desculpa pela demora na resposta.
Gosto sempre muito de ver a paisagem da Baía Sul, com os Montes Friesland atrás (ver fotografia no blogue), em especial quando há baleias na baía. Mas acho que o que gostei mais de ver, foram as imponentes montanhas da Península Antárctica, do alto da ilha Deception.
O animal mais estranho que vi, foi um animal que nem sei bem o que é, mas que penso tratar-se de um molusco, que foi capturado por colegas biólogos na ilha Deception. Manda imagem em baixo. Vou saber o nome do bicho, para enriquecer um pouco mais a resposta :)
Quando estamos em campanha, estamos sempre muito ocupados e há pouco tempo livre, mas claro que tenho vontade de regressar a casa. Passo o tempo cheio de saudades da família :)

Colégio de Santa Doroteia
Francisco e Jo

Olá. Nós somos do Colégio de Santa Doroteia. Gostávamos de saber como foi a sensação de poder explorar a Antárctida. Como foi pisar um continente Coberto de gelo?

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Esta foi a minha 4ª Campanha na Antárctida e, por isso, há já vários aspectos que se tornam mais ou menos banais, com o passar do tempo. De qualquer modo, é sempre especial estar num sítio tão isolado e, para mim, mítico, como é o caso da Antárctida. Devo notar que nós não fomos explorar a Antárctida, mas sim estudar a Antárctida. Este sector da Antárctida em que trabalhamos, a região da Antárctida Marítima, junto à Península Antárctica (não no continente) está já relativamente bem explorado, pelo que nos deslocamos em áreas já conhecidas. O interesse principal, e a sensação de exploração, tem também muito a ver com as constantes descobertas que vamos fazendo. No âmbito do estudo dos terrenos congelados - o permafrost - que é o nosso campo de estudo, há ainda muito por descobrir e, por isso, é particularmente interessante e estimulante ir fazendo novas observações científicas, que permitem fazer avançar o conhecimento. Em relação à ultima parte da pergunta, apenas iremos à parte continental da Antárctida no próximo ano, mas estamos especialmente interessados na parte não coberta de glaciares. Temos, contudo, atravessado vários glaciares e a sensação é variada, mas talvez aquilo que nos marque mais, seja a amplitude da paisagem, as enormes distâncias sem influência humana e uma paisagem pristina.
Olá,outra vez! (já deixamos um comentário).
Deve ser fascinante estar aí na Antárctida.
deve estar um frio de rachar, mas a sensação de alegria deve fazer o frio ficar insignificante.
Somos do 7ºA e estamos no Colégio de Santa Doroteia

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É verdade que a alegria é muito grande e que faz com que o frio se torne menos importante, embora nunca possa ser descurado e, por isso, é preciso ter sempre muita atenção às condições meteorológicas e à roupa que levamos, quando saímos para o terreno. A segurança, na Antárctida é fundamental.

Colegio de Santa Doroteia
Gamito e Pires

Gostamos "bué" de si. Nós somos do Colégio de Santa Doroteia. Achamos que foi muito corajoso por ter ido à Antártida com aquele frio. Nós lemos o texto "Maria! Maria!", mas não percebemos o que é "permafrost". Aguardamos pela sua resposta. Bom resto de investigação! :)
Somos do 7ºA!

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Olá,
Obrigado pelos comentários muito simpáticos. O permafrost é o terreno que permanece sempre congelado. Imaginem a terra por baixo dos vossos pés, mas sempre congelada. Isso é o permafrost...solo permanentemente gelado. Há solo que está congelado há centenas de milhar de anos, o que é um tempo muito longo...Esse é o nosso objecto de estudo, bem como o modo como as alterações climáticas estão a afectar o solo gelado, provocando o seu aquecimento e fusão.
Olá. Nós gostávamos de perguntar se já alguma vez mergulhou no mar da Antártida. Como já dissemos somos do 7ºA do Colégio de Santa Doroteia. Aguardamos a sua resposta.

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Olá,
Sim, já mergulhei, mas apenas por divertimento. Em 2009, para festejarmos um tratado de colaboração científica polar entre Portugal e Espanha, resolvi ir dar um mergulho com um colega espanhol, no meio de blocos de gelo...pode-se dizer que a água estava fresquinha, a cerca de 1 ºC ou talvez um pouco menos. Este ano, voltei a dar um mergulho, mas na ilha Deception e aí a água estava mais quente, porque foi num sector aquecido pela actividade vulcânica...soube melhor que em 2009.

Ola somos alunos do 7ºA do Colegio de Santa Doroteiae gostariamos de saber qual e a exploração que mais gostou ou gostaria de fazer?

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A Antárctida é um sítio fantástico e todos os dias adoro o trabalho que vamos desenvolvendo. Não sei se exploração será o termo mais correcto, pois nós o que fazemos é investigação em ciência, embora descubramos muitas áreas novas para nós. Nesta última campanha, gostei especialmente de conhecer melhor novas áreas da ilha vulcânica de Deception onde ainda não tinha estado. Em alguns sectores a erosão é rapidíssima e para quem estuda a dinâmica das paisagens, está-se sempre a descobrir novidades espectaculares de que não estamos à espera. A discussões que vamos tendo com os nossos colegas de outros ramos científicos e de outros países, são muitíssimo enriquecedoras, o que associado à paisagem magnífica, torna as campanhas especialmente interessantes

Escola EB 2,3 D. Martinho Vaz
Olá Dr Gonçalo Vieira
Somos aunos do 8º ano da Escola EB 2,3 D. Martinho Vaz de Castelo Branco, na Póvoa de Santa Iria. A nossa escola participou no Latitude 60 através da nossa professora de Ciências Naturais, Paulina Mouralinho que nos tem falado muito do seu trabalho enquanto cientista português polar.
Temos algumas curiosidades sobre a sua vivência na Antárctida, tais como:
Já viu alguma foca leopardo?
Já assistiu a alguma aurora boreal?
Como fazem as pessoas ,que estão em investigação , as refeições?
Como lidam com o facto de ser sempre dia? Registam algum transtorno a nível do organismo? Se sim como fazem para minorar esse transtorno?
Os pinguins são aves simpáticas? Como reagem à vossa presença?
As instalações são de cor vermelha. Existe algum significado para essa cor?
Desde já muito obrigado pela atenção dispensada.
Saudações polares da turminha do 8ºA.

Olá a todos!
Fico contente de que a vossa escola continue com a dinâmica do Latitude60 e que se continue a interessar pelas regiões polares. Vou então responder ás vossas questões, sendo que algumas delas já foram respondidos a outros alunos, pelo que vos pedia para darem uma vista de olhos nas respostas que fui dando.
Sim, vimos várias focas leopardo, em especial na ilha Livingston, em frente à base bulgara, em South Bay. Normalmente aparecem a descansar sobre blocos de gelo flutuante e são uns animais incríveis. Na ilha Deception, vi algumas a caçar, próximo de uma grande colónia de pinguins, quando estes regressavam a terra depois da pescaria no mar.
Em relação ao facto de ser sempre de dia, na área onde trabalhamos na Antárctida, há cerca de 2 horas de noite, embora não muito escura. Mas em Svalbard, no Árctico, onde também temos um outro projecto, aí sim, é sempre de dia quando lá estamos. Para quem tem dificuldade em adormecer, pode ser complicado, mas a mim, não me causa diferença significativa. Mantemos os horários regulares, que teriamos em qualquer outra região e, como estamos sempre muito cansados, dormimos que nem pedras.
Em relação aos pinguins, sim, são muito simpáticos. Normalmente, se estamos parados, aproximam-se de nós, ficando a poucos centimetros, mas se vamos a andar em direcção a eles, geralmente afastam-se aos saltos.
As instalações são vermelhas (embora nem todas) para se identificarem melhor no meio da neve. Ajuda, caso alguém esteja perdido, a encontrar a base, se ela tiver uma cor garrida. É esse também o motivo pelo qual muitos investigadores usam também casacos vermelhos...para serem mais facilmente vistos, no caso de ser necessária alguma missão de salvamento.
Saudações polares a todos!

Escola Básica de Mafra
Olá, somos alunos do 8º ano, turma H da Escola Básica de Mafra e gostaríamos de saber  o que tiveram de estudar para poderem realizar uma pesquisa deste tipo? Que cursos são necessários? E qual será a utilidade prática destas investigações? Têm algum tipo de seguros por causa dos acidentes? A investigação é financiada por uma bolsa? E qualquer um pode aceder a ela? Quanto tempo pensam que vai durar até terem um conjunto de resultados que vos permita tirar conclusões? Sentem falta do clima temperado mediterrânico de Portugal? Se ficarem doentes, como são assistidos? Têm algum tempo livre? Como o ocupam? Trabalham todos os dias? Têm férias? As tempestades são muito frequentes? E quando está muito vento, mesmo assim conseguem trabalhar?
Desejamos-vos um óptimo trabalho e bom Ano Polar!
 
Agradecemos a disponibilidade e desejamos-vos um óptimo trabalho. Obrigado por nos permitirem conhcer melhor o vosso trabalho e uma área tão pouco conhecida por nós.
 
Felicidades,
Alunos do 8º ano da Escola Básica de Mafra

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EEEEEEEHHHHHH! Tantas perguntas!!

Como algumas delas já foram respondidas a outros colegas vossos, vou seleccionar apenas algumas. Apesar de ser um prazer responder-vos, o tempo é muito escasso. 

Cá vai:

Na nossa equipa temos investigadores com formações diversas e a interdisciplinariedade e multidisciplinariedade são muito comuns nas ciências polares. Eu, por exemplo, sou geógrafo físico, especializado em geomorfologia. O Marc também, mas o Ivo é Engenheiro Electrotécnico. O Jim é pedólogo (estuda solos). Já o Gabriel e o Alberto são geólogos. Mas no projecto temos também geofísicos e físicos. Juntando ciências diferentes, ganhamos todos e aprendemos muito mais.

Quanto à utilidade prática do nosso trabalho, os resultados que obtemos permitem compreender melhor o modo como a região da Península Antárctida está a reagir às mudanças climáticas. O permafrost é um dos suportes principais dos ecossistemas terrestres da Antárctida e compreendendo-o, vamos melhor perceber como é que os animais e plantas se vão também adaptar. Talvez saibam, mas na Antárctida não ha praticamente vegetação, mesmo nos terrenos sem glaciares. Assim, com o aquecimento e fusão do permafrost, é possível que muitas dessas áreas sejam colonizadas por vegetação, a qual funcionará como um sumidouro do carbono atmosférico. Isto é muito interessantes para a questão do aquecimento global, apesar de as áreas livres de gelo na Antárctida ocuparem uma área relativamente restrita. 
Há ainda inúmeras outras questões importantes relacionadas com o permafrost, como é o caso da estabilidade dos terrenos. A fusão do permafrost pode gerar a subsidência de solos, provocando instabilidade. No caso da Antárctida, isso pode vir a afectar algumas bases de investigação ou infraestruturas, como aliás, acontece no Árctico. E finalmente, referir, as analogias entre alguns dos ambientes com permafrost da Terra e o planeta Marte. Estudar o permafrost terrestre permite-nos conhecer melhor Marte e a sua dinâmica, bem como as possibilidades que terá para albergar vida. Aliás, alguns colegas nossos russos, com quem colaborámos há 2 anos, estudam os microrganismos congelados no permafrost. Alguns deles têm centenas de milhar de anos - os microrganismos, não os russos :) -  e foi possível reanimá-los em laboratório e trazê-los de novo à vida. 

Quanto ao financiamento, ele provem de várias fontes, mas principalmente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, parte do Ministério da Ciência, que financia o projecto PERMANTAR-2. Temos ainda alguns estudantes de mestrado que são apoiados pelo programa de bolsas Nova Geração de Cientistas Polares da Caixa Geral de Depósitos. Contudo, sem o apoio de outros programas internacionais a nossa investigação na Antárctida não seria possível, pois Portugal não tem logística polar. Agradecemos, por isso, para a presente campanha, os fortes apoios dos programas antárcticos argentino, brasileiro, búlgaro, chileno, espanhol e norte-americano.  

Escola Básica de Mafra
Olá, somos alunos do 8º ano, turma F da Escola Básica de Mafra e gostaríamos de saber quanto tempo vão aí estar a realizar investigações? Como é que são feitos os abastecimentos normais de bens que voces precisam?Podem dar-nos alguns exemplos de equipamentos de pesquisa que utilizam habitualmente? Têm medidas de segurança especiais durante o trabalho de campo? Os solos por onde andam encontram-se todos gelados?
Desejamos-vos um óptimo trabalho e bom Ano Polar!

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Olá a todos!

Normalmente, as campanhas demoram cerca de 1 a 2 meses e os abastecimentos chegam por navio, a intervalos de algumas semanas. No entanto, apenas há abastecimento de produtos frescos, como produtos hortículas ou fruta. A carne e peixe, bem como tudo o resto, vem no início da campanha, em finais de Novembro ou início de Dezembro.
No que respeita aos equipamentos que usamos, este ano, usámos muito um sistema de GPS diferencial de elevada precisão (<1cm), bem como uma estação total, que serve para medir movimentos do terreno. Como todos os anos, usámos largas dezenas de registadores automáticos de temperatura, que instalámos nos sítios onde estamos a fazer monitorização. 

Quanto às medidas de segurança especiais, são as normais para regiões de montanha. Nunca sair sozinho para o campo; indicar sempre na base o local para onde vamos; levar sempre, pelo menos, um walkie-talkie; e levar roupas suplementares, no caso de saídas para áreas mais longe da base. No caso das viagens de zodiac, se formos para longe, vão sempre duas zodiac, sendo que as zodiacs são conduzidas por um patrão de náutica. O mesmo no caso das viagens de moto de neve, sendo que com estas, se tivermos que atravessar um glaciar onde haja possíveis fendas (crevasses), as motos têm que ir encordadas. Depois há uma série de pequenos cuidados que temos que ter em triplicado na Antárctida, pois partir um pé, não é a mesma coisa do que se estivessemos em Portugal. Apesar de haver médicos, os hospitais, se o tempo estiver bom, estão a cerca de 3 dias de viagem. É, por isso, preciso fazermos inspecções médicas especiais antes de partirmos e ser-mos avaliados por um médico que nos autoriza, ou não, a participar nas campanhas.

Quanto aos solos congelados, a resposta é não. Há solos que não se encontram congelados, especialmente nos terrenos mais baixos e próximos do mar ou, no caso da ilha Deception, onde os terrenos se encontram aquecidos pela actividade vulcânica. Na realidade, o solo onde andamos só está congelado abaixo da superfície, a cerca de 30 a 150 cm de profundidade. A camada mais superficial do solo funde no Verão e o permafrost encontra-se por baixo dela. A essa camada superficial, que funde no Verão e congela no Inverno e que se encontra por cima do permafrost, chama-se camada activa.

Abraço!

Gonçalo

Escola Básica de Mafra
Olá, somos alunos do 8º ano, turma E, da Escola Básica de Mafra e gostaríamos de saber como são as vossas condições de vida aí na Antártida. Que tipo de vestuário usam? O que comem?É necessário ter condições de saúde específica para a realização de um projecto deste tipo? Estão próximos de um aeroporto para poderem aí chegar? Que meios de transporte utilizam habitualmente para realizarem as vossas pesquisas?
Desejamos-vos um óptimo trabalho e bom Ano Polar!


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Olá!

Que quantidade de perguntas! Vou tentar responder de forma rápida, mas talvez depois possa visitar a vossa escola e conversar em mais detalhe convosco.

No que respeita às nossas condições de vida, estamos integrados em pequenas bases de investigação completamente autónomas. Cada base tem capacidade para entre 20 e 30 pessoas, sendo que pouco menos de metade são cientistas, enquanto as restantes, são pessoal de apoio técnico à investigação. As condições são bastante boas, mas variam bastante de base para base. Come-se bem e as bases são confortáveis e aquecidas, com todas as condições para trabalhar. Contudo, passamos a maior parte do tempo no exterior, a trabalhar no terreno. 

As temperaturas rondam os 0ºC e o verdadeiro problema é o vento e a chuva, ou a neve com vento forte. No segundo caso, evitamos fazer trabalho de campo, porque as condições tornam-se perigosas. Felizmente, há poucos dias, no Verão, em que tal acontece. Durante 1 mês, devemos ter perdido uns 3  dias devido a muito mau tempo. Quando chove, saímos para o campo, mas se chove bastante, torna-se muito difícil trabalhar porque a roupa, por muito boa que seja, acaba por começar a ficar molhada ao fim de algumas horas. O cansaço também se sente mais com o frio, a humidade e o vento...

Usamos a roupa dividida em várias camadas, de modo a podermos vestir ou despir camadas, consoante vamos tendo frio ou calor. Geralmente, se vamos trabalhar parados, vestimos mais camadas; se vamos andar a pé ou se temos algum trabalho que envolva mais esforço físico, vestimos menos camadas. 

Num dia de sol, com temperaturas de cerca de 3-4ºC, vestimos: botas, 1 camada interior de roupa térmica fina (collants térmicos e camisola de manga comprida térmica), 1 calças finas mas resistentes para trabalho de campo, 1 camisola polar, 1 casaco impermeável gore-tex por causa do vento, luvas, gorro e óculos escuros.

Num dia de nuvens, chuva miudinha e vento forte, com 1 a 2ºC, em que precisemos de estar parados, ou num dia com neve, vestimos: botas, 1 polainas, 1 camada interior de roupa térmica fina (collants térmicos e camisola de manga comprida térmica), 1 calças finas mas resistentes para trabalho de campo, 1 calças impermeáveis gore-tex ou similar, 1 camisola polar, 1 casaco polar grosso ou blusão de penas, 1 casaco impermeável gore-tex, luvas, gorro, pescoceira e óculos escuros.

No campo, usamos vários meios de transporte, mas o mais frequente são as botas :) Além disso, usamos também motos de neve, pequenos buggy todo o terreno e lanchas pneumáticas (zodiac).

A viagem faz-se, ou de barco, ou de avião, desde o sul da América do Sul. Este ano, fomos 5 dias de barco desde Ushuaia, na Argentina e, no regresso, voltámos de avião, num voo entre a ilha de King George e Punta Arenas, no Chile. Para chegar à ilha de King George, são necessárias 8 horas num barco da marinha espanhola, porque além dos navios turísticos de cruzeiro, não há qualquer meio de transporte comercial.

Um esclarecimento: O Ano Polar Internacional terminou no ano passado. As nossas actividades de investigação continuam integradas em projectos internacionais, alguns nascidos no Ano Polar, mas já estamos fora dele.

Abraço a todos!

Gonçalo 

Escola Básica de Mafra
Olá, somos alunos do 8º ano, turma G, da Escola Básica de Mafra e gostaríamos de saber se já têm algum resultado referentes às investigações que estão a realizar. Além disso temos curiosidade em saber se gostam da paisagem que habitualmente vêm e dos locais por onde têm passado. Que animais é frequente verem?

Desejamos-vos um óptimo trabalho e bom Ano Polar!

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Olá a todos,

Escrevo-vos já na viagem de regresso, no voo entre Buenos Aires e o Rio de Janeiro, de onde sigo para Lisboa. 
O nosso trabalho está relacionado com o efeito das alterações climáticas no solo que está sempre congelado, o chamado permafrost. As nossas investigações têm diversas vertentes e preocupamo-nos essencialmente com a forma como o permafrost vai reagindo ao clima, em especial através de mudanças na sua temperatura e no tipo de movimentos do solo. Também estudamos o modo como os vários factores do clima influenciam o permafrost, em especial, a influência das temperatura do ar, radiação solar e da neve. 


Temos obtido vários resultados muito interessantes e começamos já a ter uma ideia da distribuição espacial do permafrost e da sua temperatura. Por exemplo, sabemos que há sítios com solo sempre gelado e outros em que o solo apenas congela no Inverno. Relacionamos isso com diferentes tipos de terreno (solo, rocha, etc.), mas também com a duração da neve no solo e história do local. Sabemos também que na nossa área de estudo o solo gelado tem uma temperatura muito alta, próxima de 0ºC. Isso significa que se as temperaturas atmosféricas continuarem a subir, provavelmente desaparecerá este solo gelado e haverá mudanças importantes nos ecossistemas. Mas sabermos mais detalhes acerca, precisamos ainda de continuar os nossos trabalhos durante vários anos.


Quanto à paisagem: adoramos!!! É um dos aspectos mais extraordinários da região, e que podem também comprovar com algumas das fotos do diário de campanha. A fauna é também incrível. No nosso dia-a-dia cruzamo-nos com pinguins (este ano vimos 3 espécies: Pinguim de Adélia, Pinguim Chinstrap e Pinguim Gentoo), focas (Weddell, Caranguejeiras, Leões marinhos, Focas leopardo e elefantes marinhos) e ainda com outras aves. As baleias são menos frequentes, mas também apareceram este ano.


Abraço,
Gonçalo

Escola Básica de Mafra
Boa noite,
Tentando divulgar esta nova iniciativa do Ano Polar, mostrei aos meus alunos o blog do trabalho de campo na Antártida e eles deixaram algumas questões que gostariam de ver respondidas. Nesse sentido, deixo já a seguir os seus textos com as suas questões.
Obrigada pela disponibilidade,
Tatiana Batista (Professora de Geografia da Escola Básica de Mafra)


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Cara Tatiana,
Fico muito contente pelo interesse manifestado no nosso projecto e no diário de campanha.
Um abraço,
Gonçalo

Curso Profissional de Turismo Ambiental e Rural, da Escola Secundária de Palmela
Palmela, 24 de Janeiro, 2011

Olá Professor Gonçalo
Somos alunos do Curso Profissional de Turismo Ambiental e Rural, da Escola Secundária de Palmela.
Queríamos colocar as seguintes perguntas:
Se pudesse aconselhar um turista que partia em direcção à Antárctida quais seriam as três (restringimos  para o professor não perder tanto tempo) indicações, mais úteis, que lhe daria?
Agradecíamos se nos pudesse também informar sobre os piores impactes que o turismo tem trazido para essa área do globo.
Obrigado, bom trabalho.
Alunos do 12ºAno TAR

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Olá a todos,

Peço desculpa pela demora na resposta, mas foi-me impossível fazê-lo mais cedo e aproveito a viagem de avião da Antárctida à América do Sul, para vos responder. As vossas perguntas são muito interessantes e centram-se numa das grandes questões da actualidade na Antárctida. Uma resposta cuidada "dava pano para mangas" e demoraria muito tempo, pelo que vou responder de uma forma mais curta e directa.

Em relação aos conselhos para um turista, centrar-me-ia na minimização do seu impacte ambiental e no respeito das normas do tratado da Antárctida. 

Primeiro, antes de partir, tentar remover da sua roupa, limpando cuidadosamente, todos os possíveis elementos contaminantes, em particular sementes e esporos de outras regiões. Actualmente, aparecem já em algumas áreas da Antárctida, novas espécies invasoras, trazidas, especialmente por turistas. Estas espécies, competem com as autoctones e podem levar a alterações substanciais nos ecossistemas.

Na Antárctida, seguir as indicações dos guias turísticos e manter-se nos caminhos mais percorridos, mantendo as distâncias regulamentares à fauna, evitando pisar as escassas áreas colonizadas por musgos e líquenes. 
Uma vez, de regresso, gostaria que os turistas se comportassem como embaixadores da Antárctida, promovendo as qualidades da região, tanto no que respeita à natureza, como àquilo que observaram relativamente à importância da região para a ciência global e para a cooperação pacífica entre nações.

Quanto aos piores impactes, além dos referidos, como a introdução de novas espécies, o facto de os sectores em terra visitados na Antárctida serem relativamente escassos, faz com que haja concentrações de muitos milhares de turistas, em períodos curtos, pelo que impacte na paisagem e mesmo sobre a fauna pode ser significativo. Um outro factor especialmente preocupante, especialmente na região da Península Antárctida, é o grande número de navios de cruzeiro que visitam a região, o que põe numerosos riscos ao nível de derrames de combustível, e mesmo de acidentes como é o caso do que sucedeu com o navio Explorer há poucos anos. 

Escola E.B.I. de São Bruno

Olá, o meu nome é João Soares e sou um aluno da escola E..B.I. de São Bruno. Na aula de F.Q. lemos alguns dias da vossa campanha e achamos bastante interessante o vosso trabalho, e gostaria de saber que tipo de \"óbstaculos\" encontraram no vosso percurso pela Antárctida e como têm sido lidado com eles diariamente.\r\n\r\nAguardarei pela vossa resposta, 
Obrigado, 
João Soares



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Olá João,
Antes de mais, peço desculpa pela demora na resposta, mas na base búlgara não temos acesso ao email e só por duas vezes pude ir à vizinha base espanhola e, sempre com muito pouco tempo. Escrevo do avião que nos leva da base Frei, na ilha King George, até Punta Arenas, na Argentina.

A tua pergunta é complicada para responder por email, porque há inúmeras situações complicadas, mas nem todas elas relacionadas com situações de risco. Toda a logística da campanha é complexa e esse é o maior obstáculo de uma campanha antárctica. Fazer chegar em condições mais de 1 tonelada de equipamento, planear todas as actividades em detalhe, incluindo os inúmeros contactos a nível internacional que temos que fazer, são enormes obstáculos. 

No terreno, diria que a meteorologia é talvez o principal obstáculo. Como costumamos dizer, "na Antárctida, o estado do tempo é que manda". E é bem verdade. Apesar de estarmos numa região quente da Antárctida, com temperaturas em torno dos +2ºC, o vento é constante, bem como a chuva ou a neve molhada, que muitas vezes não fica no solo, mas incomoda muito. A sensação térmica é de cerca de -15ºC e nestas condições, mesmo com os melhores equipamentos de montanhismo, ao fim de 4h começamos a ficar molhados e exaustos.   

Além destes obstáculos, temos outros obstáculos físicos à mobilidade, mas que superamos com relativa segurança. Glaciares, que atravessamos com motos de neve, encordadas quando se atravessam sectores com crevasses (fendas); o nevoeiro sobre os glaciares, que transforma o mundo num "whiteout", em que perdemos completamente o horizonte, pois a cor do céu é igual à cor do gelo, só podendo avançar usando um GPS e acelerando no vazio; mar cheio de brash (pedaços de gelo flutuante), que atravessamos de zodiac, tentando afastar com remos os pedaços de gelo que nos bloqueiam a passagem; praias cheias de blocos, que fazem com que levar uma zodiac até à àgua possa demorar mais de uma hora, à custa de muito esforço físico; ondulação que impede a entrada das zodiac na água, podendo enche-las completamente, podendo demorar mais de um hora até que consigamos embarcar; dias de chuva continua e gelada, que nos dão cabo da paciência; e tempestades de neve e vento, que pode chegar a 150km/h, cortando toda a visibilidade e impossibilitando o trabalho no exterior. Mas tudo isto é a magia da Antárctida e não nos esquecemos nunca que em cerca de 10% dos dias conseguimos ter fantásticos dias de sol.

Rita Vieira
Achei muito engraçado e dou os parabéns
ao Gonsalo Vieira e claro a todo o grupo tambem.
Só gostava de perguntar se se pode tomar banho nas caldeiras.
O Pedro quer ter fotografias dos pinguins e tambem gostava de saber se as pessoas se queimam nas caldeiras.

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Olá Rita e Pedro!
Obrigado pela vossa mensagem de apoio! É bom saber que estão a gostar!
Quando falamos em caldeiras, referi-mo-nos à parte interior da cratera do vulcão, que caíu e alargou a cratera. Agora a cratera está cheia de água do mar, que entra por uma abertura na parte sudeste da ilha. Essa água não é quente. No entanto, em algumas praias o chão está muito quente e aquece a água junto à margem. Aí é possível tomar banho com águas bem quentinhas :) Se não se tiver cuidado, quem tomar banho, pode queimar-se.
Tenho muitas fotografias de pinguins para vocês.

Beijos do tio Gonçalo!

Escola EB/S de Arga e Lima de Viana do Castelo
13 de Janeiro de 2010
Olá
Somos alunos da escola EB/S de Arga e Lima de Viana do castelo e gostariamos de saber se é verdade que na Antárctida não existe o cheiro da maresia. Se não, porque é que isso acontece? Queriamos saber, ainda, qual é a vossa missão na Antárctida.Sabemos que agora é verão no Hemisfério Sul,qual é a temperatura máxima e mínima do dia.
Obrigada e um bom ano polar.

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Resposta de Gonçalo Vieira

Olá!

Obrigado pelas vossas questões e interesse na campanha.

Em relação à pergunta da maresia, a verdade é que, pela minha experiência, penso que sim, que há um ligeiro cheiro a maresia em alguns dias, embora não seja tão forte como o de Portugal. Na maré baixa, por vezes, junto à costa surgem acumulações de algas e, embora a água do mar não seja muito salgada, penso que esse pode ser o cheiro da maresia...mas na realidade, é algo que não estou muito à vontade para comentar com rigor científico :)

A nossa missão enquadra-se num projecto de estudo do solo permanentemente gelado (o permafrost), das suas características e relações com o clima. Estudamos as temperaturas do solo e da rocha, bem como dados meteorológicos e a sua evolução ao longo dos anos. Assim, tentamos compreender, de que modo é que o clima e, em especial, as alterações climáticas (que são particularmente notórias nesta região da Antárctida), estão a influenciar o permafrost e as suas temperaturas. Para isso, é preciso medir continuamente as temperaturas do permafrost em perfurações durante um período de anos relativamente longo, de forma a perceber quais os factores que as afectam.

Por outro lado, estamos também interessados na dinâmica dos terrenos nesta região da Antárctida e estudamos os ritmos de vários processos erosivos e os factores que os condicionam. Um deles, é o próprio solo gelado, quer permanente, quer sazonal. Outros aspectos que nos interessam muito e que estamos a estudar são as condições climáticas e a neve no solo e seu regime. Se acompanharem o diário de campanha, dentro de alguns dias irei falar sobre esses assuntos, em especial quando estiver na ilha Livingston.

A região ocidental da Península Antárctida é a região mais temperada da Antárctida, com temperaturas médias anuais em torno a -2ºC. Isso deve-se à sua latitude, relativamente baixa quando comparada com a maior parte da Antárctida continental, mas também à influência do oceano austral, que modera muito as temperaturas. Por isso, nesta parte do ano, não está muito frio. Neste momento, as temperaturas rondam os -3 a +3ºC, podendo em dias de sol e sem vento, chegar a +7ºC. O problema, é mesmo o vento, a neve e, nos dias com temperaturas positivas, a chuva, que fazem com que o trabalho de campo seja particularmente duro. Convido-vos a localizarem no Google Earth ou num Atlas as ilhas Livingston e Deception e a verificarem a dimensão da Antárctida e a distância a que nos encontramos do Pólo Sul. É importante compreender que a Antárctida é um continente muito grande, diverso e com características climáticas muito variadas. Procurem também na Internet, dados sobre as estações de McMurdo e Vostok e vejam como o clima é diferente por aqueles lados.